Por Ana Célia Aschenbach

 

A educação nas culturas indígenas é transmitida oralmente, focando na sabedoria ancestral e na conexão com a natureza. As expressões dessas culturas são múltiplas. O grafismo indígena é uma forma de expressão artística que carrega significados espirituais e históricos, muitas vezes presente em pinturas corporais e objetos rituais. As danças sagradas indígenas desempenham um papel central em cerimônias religiosas, honrando os espíritos e fortalecendo a comunidade. A gastronomia indígena valoriza ingredientes locais, refletindo a relação profunda com o ambiente e a espiritualidade. Tudo isso é pouco conhecido, e merece ser divulgado. Só assim iremos valorizar essa cosmologia. 

A publicação da série POVOS ORIGINÁRIOS, uma parceria da AFLUENTE com o fotógrafo Renato Soares, inicia o audacioso trabalho de documentação fotográfica e relatos de algumas das mais de 300 etnias indígenas existentes no território brasileiro, com registros históricos dos povos que habitam hoje, o Parque Indígena do Xingu (PIX), conside- rado o maior e uma das mais famosas reservas do gênero no mundo.

 

A educação formal brasileira, na maioria das escolas, possui apenas uma base euroamericana, com noções gerais sobre os costumes, as artes e as literaturas europeias ou norte-americanas. Não sabemos praticamente nada sobre os povos indígenas, ignoramos as linhas de pensamento e de criação deles. Com exceção, talvez, do que acontece na Amazônia contemporânea, onde os índios têm uma presença maior nas cidades, o Brasil permanece ignorando as produções culturais de seus povos originários.

Os povos indígenas que vivem não apenas em nosso país, mas em todo o continente americano, são erroneamente chamados de índios. Essa palavra é fruto do equívoco histórico dos primeiros colonizadores que, ao chegarem às Américas, julgaram estar nas Índias. Como há certas semelhanças que unem os povos indígenas das Américas do Norte, Central e do Sul, há quem prefira chamá-los, todos, de ameríndios.

 

Vivemos um importante momento da história indígena no que tange suas articulações políticas e a cosmológica resistência ao retrocesso das políticas indigenistas no Brasil. Hoje, indígenas de diferentes etnias, produzem suas próprias antropologias e registros, com uma linguagem singular, nos mostrando outra visão de mundo, outras formas de escre- ver, de fazer arte, ação política e maneiras de reciprocidade social e interação. 

Os estereótipos dos indígenas, que só vivem nas aldeias, isolados dos ditos “brancos”, nus e em suas ocas, salta aos olhos. Esta é apenas uma das gravíssimas consequências das generalizações sobre os grupos étnicos. Por isso precisamos falar sobre os povos originários e oferecer visibilidade às demandas desses grupos. E é neste contexto que nasce a série POVOS ORIGINÁRIOS, com parte da venda dos livros revertida à etnia em destaque.

 

Começamos a série POVOS ORIGINÁRIOS com os Waurá (Wauja), e estendemos para as comunidades Kalapalo, Kamayurá e Kuikuro. Pelas lentes e histórias vividas junto a esse povo, o fotógrafo Renato Soares nos convida a adentrar a aldeia, conhecer suas casas, os hábitos, os rituais, a alimentação, música e arte, os adornos e as pinturas corporais, o universo feminino e o xamanismo.

Fotos de Renato Soares da comunidade Kalapalo.