Esse trabalho chama-se Over, no sentido de excesso. O excesso das coisas que a gente produz, o excesso de lixo, o excesso de barulho, o excesso de descarte, o excesso de espaço. Também over no sentido de overview, a vista de cima, porque o trabalho inteiro é um ângulo de visão do alto. Ver uma imagem dessa é para se deixar muito claro que não existe um jogar fora. Esse volume de coisas que estão nesse trabalho, eles estão por aí. Eu apenas juntei. Parece que é um lugar que já existe, mas na verdade não é. É um lugar imaginário. Cada elemento que tem na imagem, ele vem de uma fotografia diferente que eu fiz. Então são dezenas de milhares de fotografias que eu tenho aqui. Eu fiz o mapeamento de todos os ferros velhos que existem na grande São Paulo. Inclui aí Guarulhos, São Bernardo, São Caetano, Osasco, também Cubatão, Santos, Rio de Janeiro. Algumas coisas nos Estados Unidos, como no deserto do Arizona, que tem descarte de aviões. É um nível de complexidade muito grande, porque eles não se repetem nessa imagem. Cada carro, cada trem, cada navio, cada monte de sucata, cada um é recortado individualmente, posto na escala. Isso é uma das coisas que mais dá trabalho. Eu tenho que pôr, obrigatoriamente, a imagem numa posição que tenha a ver com a sombra de onde vem a luz. Eu determinei essa luz vindo a 45 graus.
São muitas camadas que tem para construção, porque tem um pó, tem uma sujeira, e essa sujeira eu fui acrescentando também. É meio nonsense no sentido de que, se tem uns caminhos, mas você não entende muito bem como é que a pessoa ou um carro pode chegar lá ou pode sair, é um mundo possível, mas ao mesmo tempo um mundo absurdo. Ele existe porque essas coisas estão aí, como eu falei, mas ele não existe desta forma, ocupando esse espaço ainda.
Over é muito, excesso, overdose, overview, difícil de cima, game over.